Famílias que, três meses atrás, tiveram seus lares reduzidos a escombros, viram hoje sua esperança renascer das cinzas. Com o projeto Espaço Amigável para Crianças, que chegou à sua conclusão neste sábado (26), a história de perda dos moradores do bairro dos Coelhos afetados pelo incêndio foi substituída por uma de solidariedade e alegria.

A cerimônia de encerramento desta iniciativa se deu na sede do Espaço da Criança-ARH, com apresentações artísticas, depoimentos e prestação de contas do trabalho que foi realizado com as 45 crianças assistidas no período. Iniciado em 31/08, o Espaço Amigável acolheu, todos os fins de semana de setembro e outubro, meninos e meninas de 4 a 12 anos vitimados pelo incêndio que desalojou aproximadamente 200 famílias da comunidade dos Coelhos no início de agosto. Ao longo dos dois meses, criou-se um ambiente lúdico, no qual foi possível trabalhar como cada criança se sentiu na tragédia e apoiá-la na retomada de uma perspectiva positiva de futuro.

Diante do público composto pelas famílias das crianças, parceiros e voluntários, a presidente do Espaço da Criança-ARH, Núbia Mesquita, iniciou a cerimônia de conclusão afirmando que o Espaço Amigável foi um trabalho “plantando com muito sacrifício e muito amor, e que por isso trará frutos para a vida toda”. Esses frutos, segundo Emídio Bastos, gerente de projetos da Visão Mundial para Assuntos Humanitários e Emergências, brotarão não só nas crianças, mas em todos que se envolveram na iniciativa. “Nós que trabalhamos no projeto sempre aprendemos muito com as crianças”, afirmou.

A maior lição, de fato, partiu dos pequeninos. Ao retratarem, através de desenhos numa atividade de arte-terapia, seus sentimentos com a tragédia, as crianças fizeram cenas desoladoras: casas em chamas, famílias correndo, brinquedos e animais de estimação carbonizados. Mesmo assim, em vários desenhos se via ainda um sol sorridente brilhando no canto do papel. “Mesmo na crise existe um raio de esperança por um novo dia”, explicou Núbia, ao expor as obras para os pais das crianças, e mostrar os outros desenhos feitos no processo terapêutico: árvores carregadas de sonhos e desejos para o futuro.

Também estiveram presentes na cerimônia de encerramento representantes das empresas que patrocinaram a ação, frisando a importância de cuidar das famílias da região para a construção de uma cidade mais humana. “Precisamos crescer juntos para ser um Recife melhor”, afirmou Isabela Piereck, da Acta Administração Especializada. Valdeir Bezerra, em nome da Rio Ave e dos condôminos do Rio Ave Corporate Center, frisou a eficiência do projeto, afirmando que o Espaço da Criança “não faz filantropia, e sim pratica a responsabilidade social”. “Vemos que vale a pena investir pois o principal objetivo, que é atender as famílias, tem sido atingido”, disse. Outras companhias que ajudaram na realização do projeto foram a Pernambuco Construtora, Escola Criativa e a Livraria Bookline.

O Espaço Amigável também não teria sido possível sem a dedicação dos voluntários do Ministério Rugido do Leão da Igreja Batista Obreiros de Cristo, que se dispôs a estar todos os fins de semana em sala com as crianças, realizando atividades de mediação de leitura, artes e recreação. “Muito obrigado por nos terem confiado seus filhos. Eles são maravilhosos. Cada gesto nosso foi um plantio de amor, e temos certeza que colheremos o mesmo”, disse Andrey em nome da equipe de cinco voluntários.

Ana Lúcia, que tinha dois filhos matriculado no Espaço Amigável, respondeu que ela é quem era grata pelo cuidado e pela ajuda. “Meus filhos receberam apoio aqui e eu também. Esse projeto foi uma mãe para todas nós”, disse.

Outros membros do Ministério Rugido do Leão estiveram presentes na cerimônia e levaram apresentações de tambores, dança e teatro. As crianças também presentearam seus pais com canções e danças.

A manhã terminou com a entrega de um kit a cada uma das 23 mães participantes. Os kits foram arrecadados junto a diversos parceiros durante o projeto e cada um continha duas cestas básicas, um conjunto de panelas e um botijão de gás — itens do lar importantes para a reestruturação das famílias que perderam todos os seus bens ao incêndio.

TRAJETÓRIA No dia seguinte ao incêndio no bairro dos Coelhos, o Espaço da Criança-ARH prestara um socorro inicial aos desabrigados, arrecadando roupas, comida, água e outros donativos. Neste momento, a Visão Mundial entrou em contato com a ONG para a implementação do Espaço Amigável para Crianças, uma metodologia para recuperar os mais jovens do trauma. O método já havia sido implementado em outras catástrofes no Brasil e no mundo, como o terremoto em Dichato, Chile (2010), os deslizamentos em Nova Friburgo-RJ e a enchente em Água Preta-PE (2011), e, recentemente, com os refugiados do conflito na Síria.

A iniciativa foi tema da imprensa local no seu lançamento (JC e Folha PE), bem como no encerramento (JC).

Para ver fotos da cerimônia de encerramento, visite nossa fanpage.

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