No mês em que completa a maioridade, o Espaço da Criança-ARH recebeu um presente de várias pessoas e povos: uma sede própria. A casa azul, nova e espaçosa, surpreendeu a muitos. Surpreendeu os cerca de 70 convidados ilustres que se reuniram no local, na manhã do dia 18 de setembro de 2012, para inaugurá-lo. Surpreendeu a presidente da ONG, Núbia Mesquita, que exatos dois anos antes tinha ordenado o início da construção, sem saber ainda de onde viriam os recursos para concluí-la. E teria surpreendido a mãe desta, Abigail Mesquita, que fundou a instituição no mesmo mês, no dia 6 de setembro de 1991, há 21 anos.
Nas palavras das cinco crianças que saudaram os convidados no início da solenidade, com bandeiras de países nas mãos e um jogral de agradecimento na mente, o Espaço da Criança-ARH estava vivendo um sonho realizado. A presidente Núbia Mesquita, que discursou logo em seguida, assinalou o mesmo sentimento, valendo-se do Salmo 126, para expressar sua admiração e alegria com a data. “Ficamos como quem sonha, e então nossa boca se encheu de riso e nossa língua de júbilo; então, entre as nações se dizia: grandes coisas o Senhor tem feito por eles”, disse diante plateia composta por amigos, parceiros, empresários e eminências internacionais.
COOPERAÇÃO Em seu discurso, a presidente explicou que a obtenção da sede própria era uma conquista há muito aguardada pela entidade para cumprir sua missão de dar maior dignidade à população carente da comunidade dos Coelhos. Por 20 anos, o Espaço da Criança-ARH funcionou em um imóvel alugado no mesmo bairro e, embora tivesse recebido o terreno para uma sede própria em 2001 da ONG luxemburguesa Pró-Niños Pobres (PNP), não havia recursos o suficiente para construir a casa e manter o trabalho social ao mesmo tempo.
Em 2009, a PNP advertiu que caso o terreno continuasse ocioso, seria tomado de volta. Quando estava prestes a trocá-lo por uma casa antiga localizada na mesma rua, Núbia foi persuadida do contrário pelo conselho de Ilo Borba, engenheiro e idealizador da ONG FazBem. “Você está investindo dinheiro bom em algo ruim”, resumiu o engenheiro, que conseguiu, alguns telefonemas mais tarde, as plantas do projeto e a maior parte do material de construção de graça. “As obras foram feitas dentro das melhores técnicas da engenharia”, assegurou Ilo Borba, ao tomar a palavra posteriormente, acrescentando que exemplos de vontade e cooperação como este deveriam ser seguidos. “Basta querer fazer”, resumiu.
Logo no ano seguinte, o grupo filantrópico Mulheres Internacionais do Recife (MIR) — representado na solenidade por sua presidente, Patrícia Brenneken, e mais quatro membros — tomou conhecimento da instituição e se engajou na angariação de recursos junto a importantes empresas, como a Kraft Foods Nordeste, Grupo JCPM, Locavel, Twenty-Six Trading e Deltaexpresso. Ao tomar a palavra, Patrícia Brenneken fez menção particular a Vera Magalhães, uma parceira de longa data da ONG que primeiro lhe apresentou ao MIR, e à então Consulesa dos EUA no Recife, Caroline Chung — representada na ocasião por sua sucessora Usha Pitts —, uma das fundadoras do MIR e cujo entusiasmo “contagiou a todas nós para ajudarmos na obra”, afirmou. Patrícia também compartilhou a alegria do grupo com a chegada daquele dia e agradeceu a atitude exemplar das empresas parceiras. “Juntos fomos capazes de garantir que essas crianças terão um futuro melhor”, concluiu.
Graças a esses e outros colaboradores, no final de 2010, quase metade do valor necessário para a obra já havia sido levantado, “como que numa sinfonia orquestrada”, ilustrou Núbia. Essa sinfonia, não obstante, passou por momentos baixos e graves antes do grand finale. Em maio de 2011, a ONG sofreu o maior assalto de sua história. Os ladrões levaram equipamentos e documentos, e o que não puderam roubar, destruíram. “Pensamos que seria o fim. Mas uma semana após o ocorrido, o Sr. Takesi Konno, adido cultural do Escritório Consular do Japão no Recife, entrou em contato conosco depois de ter assistido pela televisão uma reportagem sobre o assalto e nos disse que o Escritório poderia nos ajudar através do seu programa de Apoio a Projetos Comunitários (APC)”, contou. A contribuição japonesa foi feita em março de 2012, tendo sido a maior doação individual de toda a obra, e permitiu a conclusão da construção aproximadamente quatro meses depois.
Em seu discurso, o Cônsul Geral do Japão, Tadayoshi Mochizuki, expressou sua satisfação em ver que a doação do governo e do povo japonês foi bem empregada para construir uma casa que permitirá a execução de atividades de desenvolvimento social de forma efetiva — um objetivo humanitário que não foi comprometido pelas dificuldades que o Japão tem enfrentado. “Apesar da catástrofe do tsunami, nosso governo não deixou de investir”, relatou o Cônsul, apontando outras iniciativas agraciadas pelo APC nos últimos anos que demonstram a perenidade do compromisso nipônico. “Parabenizo o Espaço da Criança-ARH e desejo que continue por muitos anos e que a sociedade recifense continue apoiando-o”, concluiu.
A julgar pelos sinais de apoio dados pelas demais empresas parceiras presentes, o desejo do Cônsul já estava sendo atendido. Através de sua representante, a Kraft Foods Nordeste agradeceu e compartilhou seu otimismo quanto ao futuro da parceria com a ONG, que prevê, além da realização de diversas atividades com as crianças e famílias, a construção de uma quadra esportiva. Valdeir Bezerra, em nome da Construtora Rio Ave, da Acta Administração Especializada e dos condôminos do Rio Ave Corporate Center, saudou o Espaço da Criança-ARH por seu engajamento com a restauração social. “É uma entidade que combate um dos pontos mais críticos da sociedade: a ausência da família”, detalhou.
Maria de Lourdes Sousa, representante da Casa Menina Mulher, uma ONG parceira que atende a mesma região, também teve a oportunidade de felicitar o Espaço da Criança-ARH por essa vitória e pelas outras que viriam. “Uma das maiores conquistas é o espaço próprio, a próxima grande conquista é a transformação da vida das crianças e adolescentes”, afirmou.
A efetividade dessa transformação pôde ser conferida pelos convidados no relato de Mislene Maria da Hora, moradora da comunidade dos Coelhos, cujos filhos frequentam a instituição e que está matriculada nos cursos semiprofissionalizantes oferecidos. “Este lugar me deu a visão que posso ser uma vencedora. Meu futuro e o futuro da minha família são melhores por conta deste espaço”, compartilhou.
AGRADECIMENTOS Ao final dos discursos, foram entregues troféus como agradecimento especial aos voluntários e parceiros que mais contribuíram para a realização da obra. As crianças também expressaram sua gratidão através de apresentações musicais versando sobre a construção de um futuro melhor e a superação de obstáculos.
Ao final do evento, os convidados se dirigiram à porta de entrada da casa, onde o Cônsul Geral do Japão e a presidente do MIR tiveram a honra de cortar a fita azul e inaugurar oficialmente o espaço. Já dentro do imóvel, Núbia Mesquita e o Cônsul descerraram as placas em homenagem aos parceiros que ajudaram com a obra. Núbia agradeceu a esses voluntários de todas as nações que uniram as mãos e “souberam expressar a bondade e a solidariedade apesar dos tempos de crise mundial, da crise do euro, de tsunamis e de tanta instabilidade socioeconômica”, apontou. O resultado, concluiu, superou todas as expectativas. “Penso que minha mãe, Abigail Mesquita, fundadora deste espaço, jamais imaginou onde estaríamos 21 depois de seu primeiro dia na instituição. E nenhum de nós, nas nossas maiores aspirações, jamais pensou que receberíamos este tão lindo presente”, concluiu emocionada.
Veja também os vídeos da cerimônia, mostrando o descerramento das placas, uma das apresentações das crianças e um trecho do dicurso do Cônsul Geral do Japão. As fotos da cerimônia estão disponíveis aqui.