Aryana Pessoa de Melo Lima, 24 anos, iniciou sua história com o Espaço da Criança-ARH na década de 2000, com 10 anos de idade apenas. Ela foi aluna do turno da tarde, ainda quando a ONG funcionava na Rua Visconde de Goiana 269. Aryana ficou na instituição por cerca de 1 ano. “Minha mãe trabalhava muito e não tinha com quem me deixar. Os Coelhos onde moramos é uma comunidade muito carente, que não oferecia nenhuma oportunidade para eu ser criança, porque eu acabava tendo que ficar cuidando dos meus irmãos menores, e fazia serviço de gente grande. Já no Espaço, eu preferia ficar lá, porque eu podia ser criança, brincar com as outras crianças, aprender e ouvir a palavra de Deus”, lembra-se.

Em 2017, Aryana matriculou sua filha, Damily de Lima Siva, no Espaço da Criança-ARH, dando continuidade a um ciclo de Educação por Princípios iniciado há quase duas décadas. “Matriculei minha filha aqui porque nesse espaço se ensinam os princípios da Bíblia e é uma instituição onde vemos que todos são tratados com carinho e amor, sem falar que aprendi muita coisa nesse lugar que gostaria que minha filha aprendesse também”, avalia.

Mas a relação com a ONG, mesmo depois de adulta, não se interrompeu. Aryana foi aluna do primeiro curso de cabeleireiro oferecido em 2011. Desde então, foi aperfeiçoando as técnicas aprendidas e teve seu interesse despertado para o Design de Sobrancelhas, chegando a desenvolver esse trabalho dentro da sua comunidade. “Fazer o curso de cabeleireira na ARH me ajudou a melhorar a minha renda, e pude fazer aquilo que eu gostava de fazer, e exercer essa profissão dentro da comunidade me ajudou a ter mais prática. No início, muitas pessoas não deram valor ao meu trabalho, porque não conseguiam diferenciar uma simples sobrancelha de um Design de Sobrancelhas, mas hoje, por causa da febre que vemos em vários lugares na cidade de salões somente de sobrancelhas, as pessoas dentro da própria comunidade começaram a valorizar mais o meu trabalho”, explica.

Em 2017, Aryana se matriculou novamente no curso de cabeleireiro para atualizar seus conhecimentos, uma vez que a mesma viu que poderia se formalizar no mercado de trabalho. “O curso oferecido pelo Espaço vem me ajudando a aperfeiçoar o que eu já tinha aprendido no primeiro curso e a colocar em prática”. A aluna avalia que o curso este ano traz mais técnicas de cortes femininos e tem capacitado as alunas a se especializarem nesse segmento.

Desta vez, contudo, Aryana quis não somente receber conhecimento, mas também compartilhá-lo. Com sua experiência em Design de Sobrancelhas, ela se dispôs a ministrar uma oficina sobre o tema e, assim, mostrar para a ARH seu progresso na área e para a turma de 15 alunas que há outras possibilidades de geração de renda dentro da área de estética e embelezamento.

“Notei que o trabalho dela era excelente e precisávamos apresentá-la ao mercado de trabalho formal, foi quando fui informada sobre uma vaga aberta em um salão de cabeleireiro na Caxangá que funciona em modelo de parceria. Encaminhamos a aluna para uma avaliação. A aluna foi submetida a uma prova prática e foi aprovada. Assumindo a função de Designer de Sobrancelhas neste salão” compartilha Eliane Coelho, coordenadora pedagógica da ONG. Segundo Carla Costa, proprietária do salão, “Aryana é muito competente no trabalho e precisa apenas de um refinamento para poder se entrosar melhor com as clientes”.

Para Edna Costa, coordenadora administrativa da ARH, “o investimento da ONG na vida de Aryana representou uma parcela de contribuição significativa, e hoje vemos que ela está inserida no mercado de trabalho, ganhando seu sustento dignamente e tendo oportunidades para se capacitar cada vez mais e também capacitar outras mulheres de sua comunidade.”
Para a presidente da ONG, Núbia Mesquita, ver o ciclo cumprido na vida de Aryana é gratificante. “A ONG pode acolhê-la desde pequena, quando criança de comunidade de risco, oferecendo condições para que ela se diferenciasse de tantos outros. Depois, com os cursos profissionalizantes, investimos em seus sonhos, capacitado-a a nunca desistir. Agora, podemos não apenas cuidar de sua filha de quatro aninhos, para que ela possa se integrar no mercado de trabalho e saber que sua filha estará segura aqui no Espaço, mas também abrir oportunidades para que ela possa cada vez mais se aperfeiçoar e retornar ao Espaço da Criança como oficineira e capacitar mais mulheres dentro da comunidade”, compartilha. A presidente pretende achar parcerias para que ela consiga fazer o curso de Design de Sobrancelhas formalmente e ter um diploma acreditado. “Quem sabe ela não será uma empresária amanhã?”, projeta.

Para Aryane, o Espaço da Criança-ARH foi uma porta aberta para os seus sonhos. “Se não fosse o Espaço da Criança na minha vida, estaria na mesma situação que muitas meninas com histórias como a minha estão na minha comunidade, trabalhando em lava-jatos, de vendedora de pipoca na rua, sempre informalmente. Meu sonho sempre foi trabalhar com beleza e estética, e a ARH foi fundamental para a realização do meu sonho”, afirma.

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